Conversa no divã do analista - Entre pai e filho
O melhor modo de lidar com situações críticas é o diálogo, muitas vezes entre o pai, o filho e o psicólogo - (entrevista ao “O Diário” no dia dos pais 08/14)
1. Na experiência de vocês como conselheiros, quais são as dúvidas que mais atormentam os pais?
As dúvidas que mais atormentam os pais estão relacionadas a busca de explicação para o comportamento dos filhos. Por que os filhos não obedecem? Por que não gostam de estudar? Por que se envolvem com más companhias? Por que se envolvem com drogas? Por que contestam o que lhes é dito? Os pais querem entender porque os filhos se comportam como se comportam uma vez que eles (pais) fazem tudo por eles (filhos), não sendo possível justificar o comportamento dos filhos. Os pais não conseguem aceitar o fato de pagarem colégio particular, comprarem o melhor celular, orientarem tudo sobre os riscos da vida e ainda assim os filhos fazerem tudo ao contrário.
Parece que as dúvidas dos pais estão mais relacionadas a uma tentativa de provar para outros que não há justificativa para o mal comportamento dos filhos, enquanto na verdade o maior questionamento deveria ser o que fiz e tenho feito e o que devo fazer para mudar o quadro atual, que seria chamar a responsabilidade para si como pais, e agir diferente.
2. Um dos pais que nós entrevistamos disse que os pais erraram com ele porque estavam sempre fora e lhe enchiam de presentes, ele não pretende errar com seus filhos, vai ser diferente. Quais são os desafios de ser um pai participativo quando a geração anterior não foi?
Há uma frase do Içami Tima que eu gosto muito que diz: “Não é errando que se aprende; mas, sim, corrigindo o erro”. O desafio de ser um pai mais participativo do que foram nossos pais é corrigindo os erros que eles cometeram, fazendo de fato diferente do que fizeram conosco.
Para isto é necessário: 1) Identificar onde e como nossos pais erraram - não tem como corrigir algo que não sabemos o que foi. Se eles faltaram com carinho, precisamos ser mais carinhosos, se exageraram no autoritarismo, precisamos conquistar autoridade, se não foram presentes, precisamos reservar mais tempo para nossos filhos e assim por diante. 2) Perdoar nossos pais - muitas vezes carregamos mágoas e até ódio deles por algo que fizeram conosco e levamos tais sentimentos adiante e na tentativa de nos livrar deles descontamos nas pessoas que mais amamos, nossos filhos. 3) Planejar o que fazer - muitos filhos são “acidentes biológicos”, mas a educação não pode ser acidente. Içami Tiba diz que hoje não basta ser pai/mãe é preciso se preparar para ser educador e ajudar os filhos a construir um futuro promissor. Os pais precisam planejar a educação dos filhos, uma vez que pai e mãe vêm de famílias diferentes, que tiveram acertos e erros, precisam chegar a um acordo do que vão levar adiante daquilo que trouxeram para o casamento. Os pais precisam desenvolver uma educação consciente, lendo livros e artigos, participando de palestras, cursos, trocando experiências com outros pais, etc.
Eu diria que o maior desafio dos pais hoje para diferenciar da geração anterior é a capacidade de negociar sem perder a autoridade.
3. Todo mundo tem medo de causar traumas nos filhos, os castigos corporais, por exemplo, tem sido substituidos por correções verbais. No entanto, continuamos errando. Que tipo de danos as palavras duras de um pai podem causar em uma criança como "você é feio", "você é burro", "preferia que não tivesse nascido", "você estragou a minha vida".
Tais palavras ditas frequentemente, em diversas ocasiões e ainda mais quando os pais se encontram emocionalmente desajustados, faz com que o filho, à medida que vai ouvindo as frases, sinta uma dor emocional profunda e passe a acreditar piamente no que dizem. O resultado disso pode ser um complexo de inferioridade imenso, medo, raiva, insegurança, ou possíveis transtornos psicológicos tais como: ansiedade, depressão, bipolar, dificuldade na aprendizagem ou até transtornos de personalidades. Alguns desses danos podem ser tratados e sanados, outros são quase irreparáveis e responsáveis por grande sofrimento de todos ao redor. Nenhum filho merece pais descontrolados, que agridem verbalmente sem considerar o outro. Pode ser que o próprio pai foi vítima disso, mas não justifica fazer o mesmo com os filhos, pois isso é prova de imaturidade e impulsividade, o que precisa ser tratado e vencido.
4. O papel autoritário dos pais sai de cena, mas a autoridade tem que estar presente. Como fazer isso de forma equilibrada, sem ficar "amiguinho" dos filhos?
Segundo Sérgio Sinay a ferramenta indispensável para o estabelecimento de limites é a autoridade. A autoridade é adquirida através da coerência e da responsabilidade. Quando a linha que une as emoções, os pensamentos e as ações apresenta relação e se manifesta em atitudes, os pais geram sua própria autoridade e esta jamais é questionada.
A idéia de ser “amiguinho” (a) dos filhos não é nada saudável, na verdade é uma tentativa de resolver algumas questões pessoais mal resolvidas e ao mesmo tempo fugir da responsabilidade. Parece que os pais pensam mais em si mesmos do que nos filhos.
Os filhos precisam e querem que seus pais lhes digam claramente o que devem ou não fazer. Os filhos que não recebem limites com autoridade, presença e amor no momento oportuno e de maneira adequada, procurarão por conta própria.
O autor acima citado cita algumas razões porque os pais não educam seus filhos através de imposição de limites (apropriados): falta de tempo e pressa; por comodidade (não criar problemas); pela crença de que não é seu papel e sim da escola; por medo de enfrentar os filhos, ser considerado “mau pai” e não ser amado por eles; para não lhes causar traumas.
Impor limites aos filhos implica em frustrá-los e às vezes para os pais é duro demais sentir a frustração dos filhos, então é melhor deixar tudo como está.
Os filhos precisam de pais bem ajustados emocionalmente, que marcam presença na vida deles, que se interessam por eles diariamente, que os respeitem e que na hora apropriada digam com calma, mas firmeza: Filho, amo muito você e é por isso que agora estou lhe dizendo “NÃO”. É assim que se conquista a verdadeira autoridade.
5. Finalmente, os homens estão realmente aprendendo a demonstrar as emoções? A repressão desse lado afetuoso nas gerações anteriores dificulta aos novos pais seguir por esse caminho? Em relação a ser carinhoso ainda há muita resistência? Como o sr pode aconselhar sobre isso?
Estatisticamente não posso afirmar se os homens estão ou não demonstrando mais emoções. Porém, pela minha experiência clínica, de palestras, cursos e o convívio do cotidiano tenho a impressão de que eles estão, pelo menos, tentando ser mais afetuosos por conta das exigências das mulheres. Nessa questão nós temos a influência da cultura, ainda machista, que ensinou que homem não chora, tem que aguentar firme, não pode ser afetuoso porque demonstraria fraqueza, e assim por diante. E é claro, a maioria das famílias de gerações anteriores, inseridas nesta sociedade, seguiam naturalmente o que lhes era imposto e assim chegamos onde chegamos.
A resistência de mudar vem dos conceitos internos de cada um somado à pressão da sociedade por parte daqueles que ainda se acham durões, mas muitos pais que estão entendendo a importância do afeto e carinho aos filhos estão rompendo com as resistências. Hoje o número de pais que participam da gravidez junto com a esposa, fazem questão de assistir ao parto, trocam as fraldas do neném, colocam as crianças para dormir, participam das festas com os filhos e levam as crianças à praça da catedral no domingo, tem aumentado significativamente.
No que diz respeito a participação do pai em casa com os filhos ainda há muito para caminhar, é necessário que os pais se esforcem para, diariamente, abraçar os filhos, dizer eu te amo, beijar, passar tempo com eles, e tudo isto inclui os adolescentes. As esposas esperam que os pais sejam mais ativos no cuidado com os filhos, como disse Içami Tiba: “Paternidade é a atitude de estar pronto a atender seus filhos, sem esperar que a mãe peça...Um bebê cuidado pela mãe e pelo pai cresce com menos preconceitos e com menos machismo”.
Haroldo Barbosa
Psicólogo - CRP 08/15151
contao - 99948-8759 (whats)
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